A Exata Medida da Penúria

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O começo entre terras desconhecidas; não é de se estranhar. O familiar em sua crueza determina toda uma vida, outra geração, uma interrupção. Daqueles que forçaram um fim, um novo começo pôde se instalar na fronteira nunca antes ultrapassada, lugar proibido. Aquele familiar não é simplório ou mesmo simplista; de fato ele é a ode a ignorância soberba.

Sublime estupidez, encanto por aquilo que se desfaz e apraz ao que é pouco, insuficiente, inócuo. Por que o pouco ao invés do muito? A inveja do outro é sempre mais comum, corriqueira.

Uma falsa abnegação emerge, como aquela da mãe devota e da casta beata; e que explode quando confrontada com a verdadeira representação do outro. Pânico.

São muitos que precisam, pouco que se tem. Suporta- se tudo em prol de uma unidade redentora, mas guarda contigo o rancor da ruptura. Num terrível naufrágio, nada pode escapar; espera-se o pior para todos. Aí daquele que escapou, não importa seus motivos. A maldição da sobrevivência recairá sobre ti e arrastará todos seus feitos sem distinção moral ao mais escuro das noites, e de lá não sairá, pois os olhos turvos que o perseguem progressivamente enegrecem, no ritmo perverso das subjugações.

Nunca houve promessa de amor. Quaisquer inquietações intramundanas nunca foram sinal de conforto, nem mesmo uma garantia de união. Deslocou suas mazelas para um campo outro, onde foi bloqueado parcialmente; um sobrevivente.

Sobrevida não é um renascer, é um permanecer em ti mágoas doutras, marcas longas e culpas poucas; carrega-se aquilo que não é teu. Cada peso que desce, um se sobe, com mais intensidade do que se desejaria. Agora que descongelo, passo a sentir frio; a prisão permitia um sentir restrito, um sofrer em meu amago, mas sem sair.

Daqui de fora ainda vejo quadrado, aquele que se mostra circular; o brilho me ofusca, o ranger me incomoda, algo aparte meus pés, não posso caminhar.

Rebaixado em todas suas formas, guarda em ti um amargor, um azedume que se espreita por entre suas vias, que te mantém submisso aos dessabores outros. Não quer se afastar, não entende esta necessidade, faz desta proximidade o seu viver, dá guarida a tudo que fere, lacera e corta.

Um vociferar aferrado que se assemelha aos grilhões nas quais arrasta, lembra te de quem tu és, ó escravo do passado. O que tu faz não se inscreve naquilo que outros fizeram, criatura infame e mentirosa. Teu desejo é outro. A indignidade de tua vida não advém de outros, como a ti parece; ela resulta apenas de ti e mais ninguém.

A fantasmagoria que te afugenta é um espectro de sua própria compleição, efeito vil da aparência cadavérica com que discursa e age. Não te dói saber disso? A dor contigo caminhas, resvala em nós, promove um desalento e aos descuidados subsiste como aviso a todos de que o pesaroso pode ser contraído.

Tão alto escalou para chegar até o topo; de lá pude ver que tudo a minha volta se contraí; feio e mal vestido; procurei a beleza por todas as vezes que a vi, sempre negativas recebi; por onde andas tu agora, donde estás que não se mostra?

Procuro a ti por toda uma existência e acabo por sempre resvalar no mais profundo de seus contrários, de tez pálida e acinzentada, sem quaisquer máscaras pode se ver, na mais pura glória nua, monstruosa e perturbadora versão de ti.

Deixe de recostar em mim, não é a mim que tu queres, olhe para os lados e encontre teu espelho em outro, não busco o que é sombrio, só o sol me ilumina, mas sua torpe vida maculou por tempo demais está seara virgem, que por tempo demais ela viveu.

Os motivos para está permanência inócua, dura e sem sentido, porque tu fazes isto? Quero a luz me refazer, com tamanho brilho recomeçar ; por tantas vezes for necessário, sempre em distância tamanha que a sua existência jamais fará mal algum a mais ninguém.