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Chega- se e não permanece, padece.

  • Foto do escritor: Eduardo Worschech
    Eduardo Worschech
  • 23 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de jan. de 2023

         

                       

  Nem pai, nem provedor

 

Depois de poucos anos do fim da guerra que aqui não ocorreu, o desbundado pela preguiça já nasceu pobre, e assim permaneceu.


Não percorreu labirintos, nem precisou de um caleidoscópio; pois por linha reta seguiu em direção ao barro. Carregou pouco peso em sua bagagem, leve como pluma, desejou voar; mas não se alça vôo sem ter asas. Como galinha, ciscou por sobre terreno alheio, desviou -se da costura e atropelou a via social. Se não era quase nada até ali, se afundou para nunca mais ressurgir.


Um atropelo lá pelas bandas da rua da amizade, tampa da panela vermelha que não se fecha, bate e derruba o pouco de sendo que já tinha, e que agora não há mais. Na direção oposta, passa e não completa, nem projeta, nem fabrica e nem opera; simplesmente congela e conserva em ti a expressão de uma indolência febril; hipocinesia afetiva.


Anistiado de suas mazelas, comete mais grave de seus crimes deixando escapar das mãos a possibilidade de que “ todos sejam um”; condenado assim será por todas as palavras ociosas que disse.

Violento contra si, assiste impiedoso violência contra outro, deixa que role por sob as pontes um destino, que por si deveria ser um caminho de conjunção, não de se retalhar para nada mais sobrar.


Apinhamento de muitas coisas que se dissolvem com o tempo, não congrega nada como teu; nada de genealógico ou sanguíneo; apenas meras rubricas em sua libitina.


Talvez há de ser assim, que todos que conheçamos tenham que provar para si e para os outros seu valor, como uma circunvolução que topa sempre com um grupo de elementos que se repetem, vida a vida; geração em geração.


Enfrentamento severo contra a suposta vontade alheia, que de fato ausenta-se em um sentido exterior, princípio de fé e covardia; toma tudo de guia do outro como sua, não se sentindo de posse ou subtração, mas como substituição de sua vacuidade persistente.


Coleção de objetos, assim é uma maneira de acumular sem se atrever a participar, sempre olhando pela janela da vida, sem jamais entrar. Agarra- se na memória, sem que esta tenha quaisquer lastro com sentimentos correlatos e marcas duradouras.


Uma família sem membros, uma alusão a falta de teto que cobre-lhes as cabeças, luares sem estrelas, flores sem pétalas. Não vês nada a tua frente; e para trás só há escombros a permear a paisagem.


Indiscutível morada da desolação, sem luz nem sol. Abre-se as venezianas na manhã seguinte, mas esquece de pedir para o sol entrar; nem um convite, nem um desculpar.

Arruaceiro dos juízos de valor, pula de cadeira em cadeira com suas sandices, deixando um rastro de sintomas declinantes; é sempre indecoroso mostrar os cinco dedos da mão ( Nietzsche).


Mas sua compleição moral não é excepcional, pois transparece para todos aqueles que estejam atentos a uma idiossincrasia coletiva, por mais paradoxal que isto possa soar. Fraqueza reiterada em seus preconceitos, monstrum in animo és tú; padecendo assim de uma longa enfermidade.


Daquilo que não pode ser acusado é de desleixo contextual, pois sabida é sua propensão ao mofo e a recordação. Em compensação, parasitas do presente povoam seu viver, demarcando aquilo que se pensa e se faz, implicações que reverberam no bolor precioso.


Incessante manifestação de uma razão suprassensível, os parasitas permearam uma existência pródiga em rebaixamentos, absorvida por completo pela insuficiência crítica e social. Assemelha-se ao nada, mesmo sendo pouco, subtraindo assim todos que ali nasceram, causando com isso desafios que não precisariam existir.


A maneira torta de um gandulo, subsumida a contragosto no seio familiar alheio, viveu de esmolas e promoveu inaugurações que a vistas outras deveriam ser vistas como prêmios. Parasita que se espicha, tocou a sua volta e permaneceu ali por décadas afim, para todo sempre que existiu como mãe.


Mas aqui não é da ignomínia presença da estupidez orgulhosa que tratamos, talvez como uma outra Medeia, vinga- se de si mesmo, não por vingança a outro, mas como ódio a si. Aqui perdura o inimaginável e pendular atraso existencial, uma condição perene de autocomiseração fágica; efeito drástico de deslizamento orgânico, sentimental e parental.


Com a falta do ar, impacta- se o sangue; que logo deixa de drenar as impurezas, que logo sobrecarrega tudo por tempo demais. Fim em seu começo, arrasto em seu meio; começo quando se dá o seu fim.

 

 

 

 

 

 

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Eduardo Worschech

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