O Banal Que Nos Aprisiona
- Eduardo Worschech
- 10 de jan. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de jan. de 2023

Dispensado todos os preciosismos, um desejo inconteste de que isso possa ser possível, parece que muitos de nós vocalizamos todos de um lugar priorizado neste momento em vigília, como se a todos o cosmo pudesse se refastelar de nosso olhar, privilégio das lentes fugazes deste único e poderoso sujeito universal. A inesperada concretude de seu contrário, nunca, nem que por um relance, retira de nós tão insossa expressão, resultado da mais fria e recozida refeição, de um movimento perpétuo de condicionamento bestial.
Se de fato estamos aqui por efeito de gerações de macaqueações subsistenciais, parece me insuficiente para que mais além do hoje seja feito. Fim desejado, aplaudido, necessário. Contemos um causo, pois de banal não se diz, mas se satisfaz com sua distância e para o nunca mais.
Festas infantis concentradas nos espaços de buffet indispõem por princípio a ludicidade, potência de vida e graça; pois parecem se antepor a toda e qualquer espontaneidade pueril, alegre e despojada, elementos próprios do meninil. As primaveras chegam sempre num despertar das revoluções celestes, bençãos por tão benfazeja beleza. A infância, tão logo floresce e desabrocha, os adultos já a colocam no trilho de ferro do trem, medindo tudo com fita métrica, balança e barômetro, como nos lembra Manoel de Barros.
Mas que inconfessável indisposição é está que nos assola como pais, cárcere de nossa incompletude aberta no mais constrangedor locus para conversas mil sobre a infância. Os buffets, com seu input e output, sua refeição pasteurizada e o excesso de estímulos, nas quais a criança não conseguem consubstancializar num sentimento de aconchego e plenitude.
Como o alvoroçar de um gigante, as crianças se agitam, se misturam e se dissipam com tamanha brutalidade, que mais próximas estão de uma volatilidade corporal espontânea. Talvez, dada as limitações domésticas, da fastidiosa morada e abrigo, não sobre espaço para a expansão cognitiva sensório corporal de uma criança. Triste fim tão presente. Uma fábrica interminável de produção de encontros, mapas existenciais e afetivos é represada logo em seu nascedouro; corre-se o risco de que está fonte seque prematuramente, nem mesmo formado seus leitos.
Trancafiada esta impavidez tempestiva, resta a mediocridade da vida adulta, repleta de acorrentados as suas próprias preocupações, tão rasteiras quanto minúsculas, diante daquela volição explosiva da infância. Inexpressivo é por contar com as supostas determinações passadas, vida diminuída ao ponto da reprodução, promovendo uma continuidade artificial entre aquele de antes e o de agora, post hoc ergo, propter hoc.
Se com esta controversa posição se interrompe uma infância, não a faz por mero capricho senil, mas como resultado de anos a fio de desespero e desamor, avivados aqui como contraposição ao mais puro do viver.
As crianças, cabem todos os esforços para desaproxima-las do mundo acinzentado e frio dos adultos, e de toda sua penúria existencial irrefreável, motor de todo o desalento futuro.
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