top of page

Plantar Que Te Quero Bem

  • Foto do escritor: Eduardo Worschech
    Eduardo Worschech
  • 10 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de jan. de 2023




Aos irmãos

Carrega-se consigo folhas nos bolsos da camisa, galhos nos bolsos das calças; aos frutos se refastela, mas as raízes ficam lá, donde elas se firmaram no solo; caminhei até encontrar.


Minha intuição me guia a um grupo de árvores, de estatura e espessuras diferentes, provavelmente brotaram em épocas distintas. Nem tão perto, nem tão longe; esta era a imprecisa distância entre elas. Nada simétrico, não foi um ato humano que ali interviu, nem também o acaso da natureza; mas uma relação funcional estreita. É provável que suas raízes se toquem no subsolo, ou ao menos se comuniquem por entre os minerais que absorvem.


Seria apressado definir uma estrutura que mantenham-nas ali onde estão. Porque não se mudam? Aos pouco avisados, pareceria uma questão inapropriada, pois sua subvenção viria calcada pelo senso comum, dependente das bocas e ouvidos alheios. Mal sabem que a natureza cabe um princípio de adaptabilidade, inexorável manutenção vivencial; reformuladora de novos viveres e reviveres.


Nutridas pelo mesmo solo, tem se a ilusão de que são efeitos territoriais, o que impedi que elas mesmas reconheçam suas diferenças. Mesmo que se alastrem por entre relvas dantes visitadas, retornam ao “lar”, morada do asfixiante aconchego do solo cansado, de entorno desbotado e poroso.

Convalidos de sua estreita relação, comungam valores com fortes convicções de verdade, atribuindo uma identidade transversal a todos que ali habitam.


Este equívoco existencial impedi que possam separar seleções e omissões, verticalidades e expansões; donde nunca é suficiente ser apenas familiar, apenas próximo, apenas privado.


Se ocorre de subsistir enquanto estrutura um segundo plano em determinados ambientes, as relações descartadas ou separadas também permanecem em conectividade; estamos conectados as coisas e todas as coisas estão em nós, como nós nelas.


Com vivaz tenacidade, desafia-se a identidade; confronta-se a hiperprodução de sentidos da vida enquanto infinitamente complexa, cada vida como seleção casual e criativa; um verdadeiro “ jogo de dados que jamais abole o acaso”.


A permanência do transitório guarda consigo um desejo por se completar, que nunca de fato chega; nada estará plenamente íntegro, justo e absoluto; não se entra no mar esperando ficar seco. No horizonte longínquo, uma resplandescência inalcançável, uma marca imorredoura que se herda aos descendentes como dádiva ou maldição, a depender do ciclo na qual ele pertence. Dádiva como fechamento, abertura e dispersão; Maldição enquanto continuidade, neurose e extinção.


Ater- se ao inamovível terreno desta reserva de descanso eterno não é garantia de pertencimento, mas apenas esquecimento. Quando agora o que parece que o trágico e a repetida conjugação mórbida leva- nos a uma queda sem fim, vento na face cansada, sem descanso; nunca.


Surge então entre as árvores e os grilos, vagalumes e bichos preguiça, uma planta perene, de aspecto frágil e compleição diminuta; força arrebatadora, fértil como o cosmos, prenha de multiplicidades. Não há rugidos, mas o envasamento não deixa que nada escape a sua mordida, beijo do vento que aflora tudo que toca; sementes de dispersões magistrais. Verde como verde são as plantas, com vicissitudes delicadas, pontuais e fragmentárias.


O contraponto a floresta incólume floresce então, dizendo aquilo que todas deveriam ou gostariam de ouvir. Uma afirmação de vida que se desprende de si, espalha- se, flutua sem destino. A sua própria natureza labiríntica, de orelhas pequenas, difere da negação; dor e trabalho da oposição que lhe é própria.

Como em Nietzsche, a afirmação é composta pela tríade: múltiplo, devir e acaso. O múltiplo é a diferença entre um outro ; o vir-a- ser é a diferença consigo; e, o acaso é a diferença entre todos. O grande ensinamento que fica aqui é que não há retorno do negativo. Comecei uma busca carregando um fardo, tomado pelo forma de servo, fui paciente de coração e jamais disse não. Como “espírito resistente”, aceitei a dor e a doença, um amor pelo real; mesmo que ele tenha se mostrado como deserto.


“ Quase no berço já nos deram pesados valores e palavras: ' bem’ e ' mal’- é como se chama esse dote...e nós carregamos fielmente, em duros ombros e por ásperas montanhas!

Percebi que afirmar não é se encarregar, assumir o que é; mas liberar, descarregar o que vive.


Não sobrecarregai- vos com o solo de onde viestes; se o leão ainda não pode criar novos valores, ele já tem a potência para criar a liberdade para novas criações. Duas horas de um mesmo mundo, lembra te quando eu era criança? Eu ainda sou.

Comments


Green Juices

Filosofia, Educação, Arte e Ciência

Eduardo Worschech

Inscreva-se para Filosofia e Educação

Thanks for submitting!

  • Twitter
  • Facebook
  • Linkedin

© 2022 by Worschech. Proudly created with Wix.com

bottom of page