Um Olhar Atento

Uma paisagem desolada formada por incontáveis grãos de areia que se depositaram ao som do sopro do vento, afugentando quaisquer tipos de fauna que ali pudessem estar, é um cenário de uma torpe desvalorização.

Zéfiro estrondoso, que não deixa falar nem ser ouvido, segue um pequeno que corre descalço por ali. Não me diga que ele não fala, pois ouço seus movimentos querendo se tornar palavras.

Neste calor escaldante produzido pelos discursos delirantes, que nunca chegam no pequeno como fala atenta, cuidado e carinho; somente a obrigação persegue-o. Se o movimento dele reverbera uma comunicação inaudita neste deserto, o deserto efusivamente sopra em seus ouvidos apenas um chiado intermitente, pois em suas lacunas o silencioso vazio predomina.

Se por um acaso um solilóquio promove pensamentos em silêncio, que se desdobram em narrativas essências, o silêncio do vazio é aquele da folha em branco, dispensada em cima da mesa, sem nunca ter sido tocada.

Seria possível que alguém poderia ouvi-lo falar, ou nunca deixarão que fale?

Densas camadas submergem seu ser, que por gerações depositaram uns sobre os outros suas mazelas, como se ao futuro pertencessem. Quanto tempo o tempo leva para deixar se ser tempo e passar a ser história? Não se pode esperar que o tempo decida, ele é apenas uma abstração desconfortável, que se impõe pelos delírios voluntários daqueles que o idolatram.

Só a muitos golpes de brincar o tempo pode ser vencido, todo seu dogma contraído, sua impertinência adorada e sua mantenedora mesmice.

Juiz em seu próprio jogo, continue criança sua trajetória vinda do sul, mesmo que vestido com a cor lilás de suas aflições, pois elas sempre convertem-se na feliz expressão quando tu corres.

Sem quaisquer oposição, “bem me quer” se conjuga indefinidamente, numa multiplicidade que jamais se fecha numa unidade totalizadora.

Fale criança, chegou sua hora; nunca se aferre aquela falsa promessa do tempo, mas a derradeira vontade de viver.