Um Século de Cuidados
- Eduardo Worschech
- 10 de jan. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de jan. de 2023

O tirlintar do relógio bate a meia noite avisando de seu horário de partida. Um pai nosso e uma ave Maria ao pé do ouvido, a gratidão alegre e verdadeira de tudo ter vivido, e que nada ficou-se por fazer. Na manhã que brotou o sol, de novo, mais um vez, um adeus que já havia sido feito e um alívio no coração cansado, daquele que ficou. Graças são merecidas aquela que doou-se por toda sua vida a causa do amor maternal, incansável suspiro de cuidado e veneração, por todos aqueles que deveras vieram e povoaram de alegria, preocupações e mais do que tudo carinho, toda uma vida que percorreu quase um século de existência, quase cem anos de admiração.
Que vida atribulada foi esta que permaneceu jovem por tanto tempo; tempo suficiente para que gerações a suplantassem, viessem em seu encalço e a ultrapassassem sem nunca te abandonar.
Ode a toda alegria fulgurante, e suas múltiplas expansões; nunca haverá alguém que promoverá tanta vontade de vida quanto aquela que acolhe e dá abrigo as almas que de cima se ajoelham perante seu alentador afago doador.
Tão rasteiro seria se fossemos por uma falha de caráter apontarmos uma designação estreita sobre todas as mulheres que uma mulher foi: filha, irmã, esposa, mãe, avó; que pequeneza de espírito se alguém se dispusesse a esta desfaçatez.
Que alegria que se fez ao completar um ciclo; uma volta entorno da vida, um rodopio espiralado, que a cada volta toca novamente o eixo daquele encontro, que na memória não se desfaz.
É na eternidade, tempo sem o tempo, relógios que não batem, almas que não se exaurem, e tratos nunca desfeitos; é o encontro derradeiro com aqueles que se foram, e também a espera pelos que virão; num suspiro gracioso e magistral.
Foi a partilha que elevou-a esta condição, merecida desde então, ao panteão das sagradas figuras que comungam numa profusão delicada e serena, típica de todos aqueles que da vida levarão toda uma glória de ter vivido e agora sobrevivido em todos aqueles que tiveram a candura de por pelo menos um dia ter partilhado do esmero na qual ela confeccionou um grande e aveludado cobertor contra o frio da solidão e do desamparo.
Homenagem a querida Lúcia Calligaris Worschech, que nunca se desvencilhou desta grande jornada rumo ao bem viver.
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