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Uma Grande Festa

  • Foto do escritor: Eduardo Worschech
    Eduardo Worschech
  • 10 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de jan. de 2023




Ao chegar tenso na grande festa, na qual fui convidado por engano, cruzo por entre pessoas estranhas nas quais nem olham quem está ao seu lado. Se um individualismo soberbo como este se espalhar rapidamente, pode ser que esta festa deixe de existir antes de seu fim. Os pratos servidos são pret a porter, regados a especiarias e particularidades específicas, tudo para parecer que foram feitas para um única pessoa no mundo.


Começo a transitar por aquele espaço deserto, onde pessoas não se tocam, nem se olham nos olhos; e tenho impressões de que não esteja de fato ali, pois ninguém me vê. Pequenos clãs vão se agrupando como enxames de abelhas, mas em menor proporção e sem qualquer rainha ao centro. Algo parece uni-los, mas não integra- los, engrenagens giram, sem propósito. Um presumido sujeito se aproxima um pouco e pergunta a mim o que estou fazendo ali, deixando claro que ali não deveria estar. Será que uma guerra esta sendo travada e somente eu não entendi, ou é apenas maledicência e egoísmo exteriorizado?

Âmbito colonial, com distintas matizes de comportamento e códigos de conduta, me interditam o mover, passando a constituir minha dinâmica de fora para dentro, como se o constrangimento moldasse meu respirar. Não topo com ninguém que se dispõem a se aproximar, talvez eu seja um enfermo diante de um experimento.


Não vejo a hora de logo partir dali, mas me dou conta de que ali como aqui há julgamentos; então espero despertar, mesmo estando sufocado por uma luz no rosto, sem um escuro para poder descansar.


Tento caminhar neste suposto sonho em direção a uma saída, ao longo a direita vejo um emaranhado de conexões que se retroalimentam, uma máquina de funcionamento contínuo. Um sujeito que cruza comigo parece ser alguém que faz a manutenção desta parafernália enorme; talvez ele não tendo contato com nenhum dos detratores que me assola, promete mostrar a pressão que circulava neste sistema venoso.


Me dei conta que num sistema não há entradas nem saídas; apenas portas, conexões e contravenções. Retornei ao ponto de transição, salto da vigília ao fantasmagórico, donde estive aprisionado por alguns anos. O mundo girou em falso, e as personagens se multiplicaram em demasia. Entra em cena a cada quadro um retrato de um dia que não terminou. Como num refluxo do oceano, peristáltia borbulhante, afundei me entre os travesseiros, arrastei meu cobertor e não pude enxergar para onde ia.

Uma interminável noite de delírios que logo se travesti em um lugar desolado, como aqueles campos de refugiados em zonas de guerra. Um mundaréu de indivíduos reunidos aos borbotões, se nutrindo daquilo que cai ao solo, com demagogos a espreita e alagadiços intermitentes.


Daqui para lá, não parece haver conexão. Lembro do sistema e volto a crer que não haja acaso no encantamento. Um sentimento de dívida persiste nas noites que são dia, na vigília desperta e na busca interminável pelo fim.


Passei por um casarão antigo, onde tive de encontrar um responsável por uma entrega. Lá fui eu que encontrei um balcão de videntes, médicos e outros charlatões. Num outro recinto, revejo pessoas de uma confluência de forças passadas, constituição de outras vidas que ali ficaram. Se algo passou, eu não passarinho; permaneci no ninho a espera de conforto; mas ali só encontrei a mim mesmo, descalço.


Uma morada desabitada, lugar que um dia foi um refúgio, retorno de possível esperançar, também se constituiu em seu contrário; como um ventre que nunca desata seu primogênito, nunca deixa que as paredes caiam e possa se ver o que tem depois delas. Este aconchego sufocante, paralisa parcialmente todo um corpo, afetando um de cada vez seus órgãos, partes de um todo irreconciliável. Seu retorno a este lugar agora não promove mais o abraço falso, nem o alento promotor de novos mundos. A natureza tomou conta de tudo, com sua voraz vontade de tudo fazer sua, e lá só se encontra agora invasores, que usam- na como guarida subvivencial, nutrição de manutenção a esmo.


O inesperado parece sempre bailar defronte a alma inquietante, aquela de procura que não quer de fato encontrar, mas que esbarra sempre monumentos de suporte, idealização intocável; “ subir para cima, descer para baixo”.


A altura não deixa lhe ver num piscar, corre-se para o alto, ver as nuvens que lá de em estar ou mesmo o brilho que ofusca por sua beleza poderosa. Quando retorna, imprecisa é sua contemplação, extasiado pelo porte e todas as minúcias que dali decorre. Vizinha passageira, provável que ali não mais esteja, quando por um segundo piscar apenas o ir permaneça em sua lembrança.


Quantas foram as vezes que esta dinâmica se produziu e por quantas se perdeu. Desejo que nunca dure, que sua passagem continue para todo o sempre costurar, para que um destino não se configure como uma morada sempiterna e de aconchego paralisante.

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Eduardo Worschech

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