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Vício em Autopiedade

  • Foto do escritor: Eduardo Worschech
    Eduardo Worschech
  • 28 de jan. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 30 de jan. de 2023

 

Encastelada numa carcaça de clemência, a ex esposa do antigo comparsa ( ela mesma), retorna a casa como de maneira triunfante, a espera dos louros de congratulação em relação a sua prestação de serviços a família na qual ela não admira, nem presta cordiais reverências, nem pode odiá-los no mais profundo, porque de seu ventre vieram.


Amálgama triste de recordações sem triunfo, sem memórias de amor; galopa entre uma floresta de pinhos muito bem amarrados, cada um ao seu modo destrutivo. Quem esteve próximo mas não junto foi esta esteira de depressão e morte, que cultivou em seu íntimo um desejo voraz por auto subjugação e medo.


Esta angústia alimentada pela esparsa captação de sentimentos, trabalho duro como substituto da coragem de colocar-se na direção da prole altiva e segura; deixou que tudo lhe fosse levado, o que foi bastante fácil diante da exiguidade de amor que ali havia. Sólido como rocha, não no sentido corajoso do almirante em sua fragata de guerra; mas como decadente observância afetiva com que afasta seus rebentos, que podiam ter surpresas maravilhosas em suas vidas, acabam por arrastar a mais pesada corrente de dor parental que podem suportar.


Com empostada voz, como monstro moral do dever e do ortodoxo, fixa-se naquilo que não lhe provém e acaba por rasgar definitivamente quaisquer chances de ter boas cartas na mão.


Não há trunfo em ser desidioso com aquele que deveria ser seu objeto de amor. Dar a vida para depois negligencia-la é próprio daqueles que nunca amaram, nem jamais saberão amar. Escusas indecorosas não podem ser alcançadas com bengalas metafísicas e novenas de nove dias.


As correntes que lhe atrasam são mais pesadas e calam seu ser abruptamente, mormente se instiladas por um tal zangão que zune em seu ouvido; vertigem pelo passado a flor da pele.


Com um reflexo fendido, cria uma divergência radical entre o que pensa sobre si e aquilo que se expressa em seu comportamento. A impossibilidade de demonstrar aquilo que se pensa sobre si é causador de um mal ainda maior, porque expõe em seu bojo o nefasto que ali vive desde sempre.


Quando criança, ousou ter a vida em suas mãos. Tropeçou pela janela da frente no primeiro momento, e nunca mais voltou. Sua presença física no retorno atestou que ali não permaneceu, apenas uma sombra continuou.


Triste divisa persistente, que achatou todos a volta, com um sentimento de que o mundo era curto, cuja passagem seria sem destino e que o fim era apenas um soluço na escuridão.

 

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